Estes biscoitinhos maravilhosos e com gostinho de infância vieram do
Casa, Coisas e Sabores da Adriana. A Adri fez um concurso cultural para comemorar os 4 anos de blog e eu adorei paticipar.
O participante deveria mandar a receita dos biscoitinhos com o seu pitaco e um bom causo. E aqui vão eles!
Ingredientes
1/2 caixa de Arrozina ou de creme de arroz (100g)
1 xícara rasa de farinha de trigo (sem fazer montinho)
1/2 xícara de açúcar
4 colheres de sopa cheias de manteiga (cerca de 125 g)
1 quadrado (ou rolha) de paçoca
raspas de limão
Modo de Preparo
Misture todos os ingredientes em um recipiente, amassando com as mãos
até formar uma farofa grossa.
Sove mais um pouquinho até obter uma massa uniforme.
Separe a massa em duas porções
Em uma das porções, esfarele a paçoca e amasse novamente.
Na outra metade, junte as raspas de limão.
Modele as massa em forma de bolinha, coloque numa assadeira untada e enfarinhada e pressione com o martelo de carne (o meu tem aqueles quadradinhos, fica uma marquinha bem diferente).
Leve ao forno (pré-aquecido) a 180C por uns 20 minutos até que você verfique que corou por baixo.
Deixe esfriar para degustar e guardar.
Agora meu causo... para explicar um dos ingredientes e para fazer uma baita viagem no tempo!
Bem... quando eu penso em contar um bom causo,
só passa uma pessoa na minha mente: minha avó paterna, a dona Lídia.
Era uma mulher que não dava ponto sem nó. Páscoa, dia
da Mães, aniversários, Natal... tudo era resolvido pelo menos com um mês de
antecedência.
Perto do Natal, quer dizer, um mês antes, já
encomendava o pernil no seu Antônio açougueiro. Aniversário dos netos,
adivinha? O presente já era comprado bem antes, de um tamanho razoável para que
até a data ainda pudesse servir.
Mas é da Páscoa
que eu queria comentar (aproveitando a data).
Como de praxe, bem antes da comemoração com um belo
bacalhau, minha avó fazia uma coisa simplesmente maravilhosa: paçoca!
E foi
por este motivo que eu fiz parte dos biscoitinhos com paçoca.
Dona Lídia não fazia essas paçocas sem cor e cheias de
açúcar. Era uma paçoca lotada de amendoim, moreninha, soltinha e perfumada.
A paçoca é a
coisa mais simples do mundo, três ingredientes: amendoim, açúcar e farinha de
mandioca. Tudo bem moído, tudo junto.
O “x” da questão era como combinar estes três
ingredientes na medida certa. Receita? Não! Só ela sabia. Tinha que sentir na
mão, no paladar.
Tentar reproduzir? Isso ela era bem direta: Você não vai conseguir, deixa que eu faço!
Ah, nem me fale dos doces que ela ganhava! Abóbora,
cidra, goiaba, banana... ela os “consertava”. Porque nunca estavam doces o
suficiente. Lá ia ela “tacar” mais açúcar e apurar mais.
Voltando à Páscoa, uma das coisas que eu gostava (além
da paçoca) era de algumas das estórias que ela contava.
Uma delas, era a estória de uma senhora que não tinha
muitas posses e não poderia comprar um peixe para a Sexta-feira Santa. Então
durante a semana Santa, ela comprou uma ova de peixe bem graúda e a pendurou na
cozinha perto do fogão (como se penduravam as linguiças).
Todos os dias, a senhora passava na ova um pedacinho
de miolo de pão e comia, só para sentir o gostinho. Fez isso a semana inteira e
só comeu toda a ova na sexta-feira. Pobre senhora!
Outra estória (muito fantástica) era sobre a empregada
de uma outra senhora.
A tal empregada, disse à patroa que iria fazer um
frango ensopado para o almoço da sexta-feira Santa. A dona da casa ficou
revoltadíssima. Onde já se viu comer carne na sexta-feira Santa? Deu ordens
para dessalgar um bacalhau.
Mas quando chegou o dia do almoço, sentiu-se pela casa
toda um perfume de frango ensopado no ar...
A patroa foi atrás da pobre mulher:
_Sua louca! Eu não te disse para não fazer frango
hoje? Não pode!
A empregada sem saber muito o que fazer da sua
incredulidade na data, replicou:
_Mas vamos jogar tudo fora? Deve estar tão gostoso!
Neste instante destampou a panela e pasmem! Não havia
frango algum. Havia apenas sabugos de milho boiando no molho.
É... o frango havia se transformado em sabugos de
milho.
Por estas e por outras estórias “dos antigos” que
minha avó jamais consumia carne na sexta-feira Santa.
A dona Lídia, além de ser uma avó cheia de receitas de
doces, tinha um espírito muito aventureiro, uma moleca!
Quando criança, uma das aventuras lá no interior de
São Paulo, era caçar sabitús. Sabitús são uns formigões que podem ser consumidos
como uma iguaria. E até hoje há gente que come e se delicia.
E lá ia a dona Lídia molequinha com uma bacia de
cinzas (porque era a única maneira das formigas não subirem nas pernas).
Entrava na bacia e cutucava o formigueiro. Lá vinham
os sabitus muito bravos ver o que acontecia. E aí já era... viravam petisco ou
até bonequinhos para brincar.
Só que a brincadeira não se tornava boa coisa, acabava
apanhando por ficar tanto tempo fora de casa.
Minha avó renderia um livro! Mulher guerreira, sem
papas na língua. Passou por grandes dificuldades, perdeu a mãe vítima da gripe
espanhola, trabalhou, ajudou a família, criou seus dois filhos, viu seus netos
e bisnetos, teve gatos e vários bassets. A última cadelinha, a Fly, uma basset
caramelo, era tratada a leite Ninho e a biscoitos que ganhava das crianças do
vizinho.
Os bichinhos sempre eram muito bem tratados pela dona
Lídia. A Fly não parecia uma salsicha, tava mais para uma mortadela das grandes!
E Minha avó nunca se esquecia de seus vários
canarinhos, dos seus pardais alimentados na sacada e dos beija-flores.
A pedidos do
Céu esta mulher nos deixou, ciente de que a sua missão foi muito bem cumprida!